O Calvinismo (também chamado de Tradição
Reformada, Fé Reformada ou Teologia Reformada) é tanto um
movimento religioso protestante quanto uma ideologia
sociocultural com raízes na Reforma iniciada por João Calvino em Genebra no século XVI. A tradição Reformada foi desenvolvida, ainda, por
diversos outros teólogos como Martin Bucer, Heinrich Bullinger, Peter
Martyr Vermigli e Ulrico Zuínglio. Apesar
disso, a fé Reformada costuma levar o nome de Calvino, por ter sido ele seu grande expoente. Atualmente, o termo
também se refere às doutrinas e práticas das Igrejas Reformadas. O
sistema costuma ser sumarizado através dos Cinco pontos do calvinismo,
elaborados como uma resposta ao Arminianismo
A obra de João Calvino
João Calvino exerceu uma influência internacional no
desenvolvimento da doutrina da Reforma Protestante, à
qual se dedicou com a idade de 30 anos, quando começou a escrever a "Instituição da religião Cristã"
em 1534 (publicado em 1536). Esta obra, que foi revista várias vezes
ao longo da sua vida, em conjunto com a sua obra pastoral e uma coleção maciça
de comentários sobre a Bíblia, são a fonte da influência
permanente da vida de João Calvino no protestantismo.
Calvino apoiou-se na frase de Paulo: "pela fé sereis salvos", retomada por Martinho Lutero.
Para Bernardye Cotitretw, biógrafo de Calvino,
"o calvinismo é o legado de Calvino e torna-se uma forma de disciplina, de
ascese, que raramente é levada ao extremo da teimosia". O Calvinista é
pois no extremo um profundo conhecedor da Bíblia, que pondera todas as suas
ações pela sua relação individual com a moral cristã. O Calvinismo é também o
resultado de uma evolução independente das idéias protestantes no espaço
europeu de língua francesa, surgindo
sob a influência do exemplo que na Alemanha a figura de Martinho Lutero tinha exercido. A expressão
"Calvinismo" foi aparentemente usada pela primeira vez em 1552,
numa carta do pastor luterano Joachim Westphal, de Hamburgo.
O Calvinismo marca a segunda fase da Reforma
Protestante, quando as igrejas protestantes começaram a se formar, na seqüência
da excomunhão de Martinho Lutero da Igreja Católica romana. Neste sentido, o Calvinismo foi
originalmente um movimento luterano. O próprio Calvino assinou a confissão
luterana de Augsburg de 1540. Por outro lado, a influência de Calvino
começou a fazer sentir-se na reforma Suíça, que não foi Luterana, tendo seguido a orientação
conferida por Ulrico Zuínglio. Tornou-se
evidente que a doutrina das igrejas reformadas tomava uma direcção independente
da de Lutero, graças à influência de numerosos escritores e reformadores, entre
os quais João Calvino era o mais eminente, tendo por isso esta doutrina tomado
o nome de Calvinismo.
Uma vez que tem múltiplos fundadores, o nome
"Calvinismo" induz ligeiramente ao equívoco, ao pressupor que todas as
doutrinas das igrejas calvinistas se revejam nos escritos de João Calvino.
O nome aplica-se geralmente às doutrinas
protestantes, que não são luteranas, e que têm uma base comum nos conceitos
calvinistas, sendo normalmente ligadas a igrejas nacionais de países
protestantes, conhecidas como igrejas reformadas, ou a movimentos minoritários
de reforma protestante.
Nos Países Baixos, os calvinistas estabeleceram a Igreja Reformada Neerlandesa.
Na Escócia, através da zelosa liderança do ex-sacerdote católico John Knox, a Igreja Presbiteriana da
Escócia foi estabelecida segundo os princípios calvinistas. Na Inglaterra, o calvinismo também desempenhou um papel na
Reforma, e, de lá, seguiu com os puritanos para a América do Norte. Na
França, os calvinistas, chamados de Huguenotes, foram perseguidos, combatidos e muitas vezes
obrigados ao exílio. Em Portugal, na Espanha ou na Itália, estas doutrinas tiveram pouca divulgação e foram
ativamente combatidas pelas forças da Contra-Reforma, com a ação dos Jesuítas e da Inquisição.
O sistema teológico e as práticas da igreja, da
família ou na vida política, todas elas algo ambiguamente chamadas de
"Calvinismo", são o resultado de uma consciência religiosa
fundamental centrada na "soberania de Deus".
O Calvinismo pressupõe que o poder de Deus tem um
alcance total de atividade e resulta da convicção de que Deus trabalha em todos
os domínios da existência, incluindo o espiritual, físico, intelectual, quer
seja secular ou sagrado, público ou privado, no céu ou na terra. De acordo com
este ponto de vista, qualquer ocorrência é o resultado do plano de Deus, que é
o criador, preservador, e governador de todas as coisas, sem excepção, e que é
a causa última de tudo. As atividades seculares não são colocadas abaixo da
prática religiosa. Pelo contrário, Deus está tão presente no trabalho de cavar
a terra como na prática de ir ao culto. Para o cristão calvinista, toda a sua
vida é um culto a Deus.
De acordo com o princípio da Predestinação, por
causa de seus pecados,o homem perdeu as regalias que possuía e distanciou-se de
Deus. O homem é considerado "morto" para as coisas de Deus e é
dominado por uma indisposição para servir a Deus.
Só havia, então, uma maneira de resolver esse
problema: o próprio Deus reatando os laços. Deus então, segundo a doutrina da
predestinação, escolheu alguns dos seres humanos caídos para salvar da
pecaminosidade e restaurar para a comunhão com ele. Deus teria tomado esta
decisão antes da criação do Universo. Mas é claro que não é por causa de
quaisquer boas ações que eles foram escolhidos: "porque pela graça sois
salvos,mediante a fé, e isso não vem de vós;é dom de Deus; não vem de obras,
para que ninguém se glorie".(Efésios 2:8,9) Os cinco pontos do calvinismo
(conhecidos pelo acróstico TULIP, referente às iniciais dos pontos em inglês)
são doutrinas básicas sobre a salvação, definidas pelo Sínodo de Dort.
São eles:
· Depravação total;
· Eleição incondicional;
· Expiação limitada;
· Vocação eficaz (ou Graça
Irresistível);
· Perseverança dos santos.
O Calvinismo também defende uma Teologia Aliancista
e os Sacramentos como meio de graça, Santa Ceia e Batismo, incluindo o Batismo
infantil. Calvino na sua principal obra, as Institutas diz: "Eis aqui por
que Satanás se esforça tanto em privar nossas criaturas dos benefícios do
batismo; Sua finalidade é que se esquecermos de testificar que o Senhor tem ordenado
para confirmar as graças que ele quer nos conceder pouco a pouco vamos nos
esquecendo das promessas que nos fez a respeito disto. De onde não só nasceria
uma ímpia ingratidão para com a misericórdia de Deus, mas também a negligência
de ensinarmos nossos filhos no temor do Senhor, e na disciplina da Lei e no
conhecimento do Evangelho. Porque não é pequeno estimulo sabermos que educá-los
na verdadeira piedade e obediência a Deus. E saber que desde seu nascimento
foram recebidos no Senhor e em seu povo, fazendo-os membros de sua
igreja." (CALVINO, 1999, p. 1069.) O calvinismo deveria ser austero e
disciplinado, ou seja: As pessoas não tinham direito a excessos de luxo, e
conforto, sem esbanjamento matriana.
Interpretação Sociológica
Sociólogos como Max Weber e Ernest Gellner analisaram a teoria e as conseqüências práticas
desta doutrina e chegaram à conclusão de que os resultados são paradoxais. Em
parte explicam o precoce desenvolvimento do capitalismo nos países onde o
Calvinismo foi popular (Holanda, Escócia e Estados Unidos da América,
sobretudo).
O Calvinista acredita que Deus escolheu um grupo de
pessoas e que as restantes vão para o Inferno. Conseqüentemente, a pergunta que
qualquer Calvinista se faz é: "Estarei eu entre os escolhidos?".
Como é que um Calvinista sabe se está entre os
escolhidos ou não? Teoricamente, não é ele que o determina. A decisão está
tomada. Foi tomada por Deus. Como é que eu sei se fui escolhido ou não?
Resposta: Deus me atraiu e eu cri na sua palavra. Ela é que me diz: "Mas a
todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus a
saber os que creem em seu nome". Pela graça sois salvos, isto não vem de
vós é dom de Deus para que ninguém se vanglorie.
Sendo um bom cristão, trabalhando muito, seguindo
sempre todos os princípios bíblicos, o Calvinista prova a si mesmo que foi um
escolhido, pelo seu sucesso como cristão. Não é a sua própria ação, mas de
Deus, pois se Deus trabalha por ele, ele conclui que foi um dos eleitos.
Sendo assim, historicamente, para muitos
Calvinistas, o sucesso no trabalho e a conseqüente riqueza poderá ser um dos
sinais de que está entre os escolhidos de Deus. Os Holandeses, os Escoceses e
os Americanos ganharam, então, a fama de serem sovinas, pouco generosos,
interessados apenas no dinheiro. Estas características são na vida moderna
quase um dado adquirido em qualquer cultura, mas nos tempos da Reforma Protestante, o
Calvinismo terá instituído uma nova e revolucionária forma de relação com a
riqueza. Ver Ernest Gellner para mais
detalhes..
Ocorre que o uso dos ideais calvinistas para o
alavancar da sociedade capitalista é equivocadamente relacionado a ideais
capitalistas intrínsecos ao calvinismo. Calvino em sua obra afirma que a
riqueza não tem razão de ser se não para ajudar aos que necessitam, e critica a
avareza ao dizer que o fruto do trabalho só é digno se útil ao próximo:
"Da mão de Deus tens tu o que possuis. Tu,
porém, deverias usar de humanidade para com aqueles que padecem necessidades.
És rico? Isso não é para teu bel prazer. Deve a caridade faltar por isso? Deve
ela diminuir? Não está ela acima de todas as questões do mundo? Não é ela o
vínculo da perfeição?" Sermao
CXLI sobre Dt 24.19-22. OPERA CALVINI, tomo XXVIII, p. 204
"Condena o Profeta a estes ladrões e
assaltantes que lhe parecia deterem o poder de oprimir a gente pobre e o
pequeno trabalhador, uma vez que eram eles que tinham grande abundância de
trigo e grãos; ... é o mesmo como se cortassem a garganta dos pobres, quando os
fazem assim sofrer fome." Os Doze
Profetas Menores, op. cit., Am 8.5
Mas o Calvinismo se espalhou pelos países que
estavam passando pelo processo da Expansão
Comercial. Entre eles os países eram: França, Holanda, Inglaterra, e Escócia. Isto atraíra vários comerciantes, e banqueiros.
A prosperidade
econômica também foi um sinal da escolha divina, o que valorizava o trabalho, e
a justificativa as atividades da burguesia.
Calvino, inventor do capitalismo?
São muitos os que atribuem a Calvino a invenção do capitalismo baseados na leitura do livro A ética
protestante e o espírito do capitalismo, do sociólogo alemão Max Weber. Em um artigo para a revista Portugal
Evangélico, em sua edição nº 933, o pastor protestante espanhol Carlos Capó rebate
essa afirmação: "Tratar Calvino como fundador do capitalismo é
simplesmente cair num anacronismo e num reducionismo. Não se trata de
desmerecer a obra de Weber. Pelo contrário, com ela, ele levava a cabo uma
meticulosa e acertada análise dos mecanismos que levaram ao desenvolvimento do capitalismo.
Mecanismos, certamente relacionados com a ética protestante. Mas o capitalismo é um conceito que não pertence ao tempo
de Calvino, tendo sido definido posteriormente a ele. É um conceito económico e é um conceito político sujeito a uma polémica num mundo dividido entre dois modos de entender a
sociedade e a economia: o capitalista e o comunista. Querer meter Calvino nessa polémica está fora de questão".
Denominações Calvinistas
O Calvinismo é a doutrina de diversas denominações
Protestantes, dentre elas destacamos:
· Igreja Anglicana Reformada.
· Igreja Reformada Suíça -
religião oficial da maioria dos cantões da Suíça.
· Igreja Protestante Evangélica
Holandesa - recentemente unificada, não é mais a religião oficial dos Países Baixos
· Igreja Reformada Francesa
- a igreja dos Huguenotes
· Igreja Congregacional -
concentrada na Nova Inglaterra, nos
Estados Unidos, hoje parte da Igreja Unida de Cristo.
· Igreja Reformada Hungara
· Igreja da Escócia
· Igreja Presbiteriana do Brasil
· Igreja
Presbiteriana Independente do Brasil
· Igreja Presbiteriana Contemporânea
· União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil
· Igreja
Presbiteriana Conservadora do Brasil
· Igreja
Evangélica Presbiteriana de Portugal
· Missão Plena
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